Entrevista de Claudia Finamore (http://www.apoiopsi.com.br) para a jornalista Priscilla Nery (http://vilamulher.terra.com.br/filhos-e-suas-amizades-8-1-55-403.html).
Filhos e suas amizades
Num mundo cada vez mais violento, pais e mães precisam se desdobrar para criar os filhos da melhor maneira, muitas vezes deixando-os bem perto da família. Mas chega uma hora que os pequenos acabam escolhendo outras pessoas que também serão fundamentais em suas vidas: os amigos.
Não se pode negar que os amigos são necessários para qualquer ser humano e têm um papel essencial na vida dos filhos. "As amizades são importantes para o desenvolvimento psicossocial dos filhos, possibilitando a aquisição de habilidades no convívio grupal. Esse contato social oferece a oportunidade da criança ou adolescente conhecer mais sobre si mesmo e o mundo. É um aprendizado construído na medida em que a criança amadurece, onde noções de limites, respeito, semelhanças, diferenças, competição e solidariedade são apreendidas", afirma a psicóloga e psicanalista Claudia Finamore.
A especialista explica que os amigos interferem na personalidade e na formação do indivíduo. "A criança nasce com parte de sua personalidade formada por meio dos traços genéticos parentais. Porém ocorrem mudanças de acordo com o que a criança vive e as relações que estabelece com o mundo. Tudo o que a criança observa, percebe ou interage irá, em maior ou menor grau, influenciar na formação da sua personalidade. Mas não se pode deixar de lado como a criança interpreta o que vê e ouve. É a sua interpretação da realidade que irá participar da formação da sua personalidade", diz.
Porém é preciso que os pais tenham cuidado. Afinal, não é sempre que uma criança ou adolescente estão preparados para fazer as melhores escolhas. Marcelo Bergamasco conta que teve que interferir numa das companhias de seu filho mais novo. "Meu filho disse que estava conversando com um jovem que é traficante. Não era amigo dele, mas estavam juntos com outros jovens. Expliquei o que as drogas poderiam acarretar para ele e no futuro dele, e que seria melhor que se afastasse do jovem. E ele se afastou", declara.
Marcelo acredita que os pais são o exemplo para que os filhos não se envolvam em situações de risco por causa de amizades: "Se a criança encontrar dentro de casa pais que sejam bons referenciais, creio que as amizades podem até tentar, mas não vão conseguir mudar o que está sendo formado e alicerçado dentro de casa".
A psicóloga ensina que os pais servem mesmo como base para os pequenos. "A educação dos valores escolhidos pelos pais deve iniciar desde o início, e não quando os filhos já cresceram e farão uso desses valores. Desse mesmo modo deve ocorrer a escolha de boas amizades: primeiro, pelo exemplo dos próprios pais. Na época em que os filhos começarem seus laços de amizades, lá pelos 3 ou 4 anos, os pais participam com proximidade desse processo, intermediando as relações dos filhos com seus amigos nos momentos de discórdias. Com o tempo, os pais podem se afastar um pouco, de acordo com a possibilidade dos filhos resolverem suas diferenças com os amigos"
Até que a adolescência chegue, a participação dos pais implica num maior limite. Porém isso não quer dizer que deve distanciar-se. "Nesses casos, o diálogo franco e aberto é o melhor caminho para lidarem com as escolhas de amizades dos filhos", diz.
Esse é o caso da assistente administrativa Joana Vallim, que relata a influência de um amigo na vida de seu filho de 19 anos: "Um dia, um amigo colocou um piercing no nariz e meu filho cismou de pôr também. Eu falei que detestava piercing, mas não podia interferir, porque ele é maior de idade. Então ele colocou, mas teve que tirar depois de um mês, porque infeccionou".
Embora os pais não devam agir de maneira repressora, é fundamental que acompanhem a vida dos pequenos, e isso inclui sim as amizades. "Os pais devem estar atentos às amizades dos filhos seja na infância ou adolescência. Conhecer os amigos, torná-los próximos da família, e manter os limites de respeito não invasivo colaboram nessas relações. Os pais podem interferir nas amizades escolhidas caso sejam gravemente prejudiciais aos filhos. De qualquer modo, isso deve ocorrer através de um diálogo honesto entre pais e filhos, incluindo aí o modo de se relacionar com os amigos", finaliza a especialista.
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