A Psicóloga e Psicanalista Claudia Finamore (http://www.apoiopsi.com.br/) foi entrevistada por Patricia Diguê, da Isto É. (http://www.istoe.com.br/reportagens/104953_TATUAGEM+NAO+TEM+IDADE)
O que leva homens e mulheres a realizarem, na maturidade, o desejo de tatuar a pele
Executivo do ramo financeiro, Cláudio Lorenzetti, 68 anos, adiou por décadas o sonho de ter uma tatuagem por temer o preconceito principalmente no ambiente de trabalho. Este ano finalmente tomou coragem de entrar em um estúdio. Apesar das dores das agulhadas, saiu realizado com o rosto de Jesus Cristo desenhado no braço direito. “Sempre tive vontade de tê-lo aqui no meu corpo”, conta ele, atualmente consultor, que é um católico fervoroso. A esposa, Nilza, da mesma idade, não só aprovou a novidade como também aproveitou a onda e resolveu tatuar uma borboleta no pulso.
Depois de ter conseguido sair do submundo e conquistado as classes média e alta, agora a tatuagem também rompe a barreira da idade. É cada vez mais comum encontrar pessoas com mais de 60 anos nos estúdios e até famílias inteiras decorando o corpo. “Já tatuei um senhor de 80 anos”, conta Fábio Mancha, do estúdio Art Classic, de Santos, que tem percebido o aumento desse público nos últimos dois anos. “Atendo pelo menos duas pessoas por mês com idade entre 50 e 70 anos, a maioria mulheres”, comenta o tatuador.
O fato de os procedimentos terem se tornado mais confiáveis e menos dolorosos ajudou a quebrar o receio dos mais velhos, acredita o dono do Kiko Tattoo, Alexandre Rodrigues, do Rio de Janeiro. “Tatuagem não é mais uma coisa de gente maluca”, diz ele, que possui três lojas dentro de shopping centers cariocas. Esse público, porém, é mais exigente. “Eles só aderiram às tatuagens após o surgimento de equipamentos mais modernos, ambientes mais higienizados e bom atendimento”, afirma Rodrigues. Hoje, os estúdios sérios usam agulhas descartáveis, acessórios esterilizados e tintas de qualidade.
Guinadas de vida também encorajam os mais velhos a encarar a agulha. Só após se separar do marido, que não aprovava a ideia de a mulher ter uma tatuagem, a dona de casa Rosalee Macedo, 63 anos, decidiu fazer uma tattoo. A primeira, uma rosa no tornozelo, veio perto dos 50. A segunda, dois corações e as iniciais do nome no pulso, há dois meses, e a terceira, as iniciais dos quatro filhos, na semana passada. “Fica chique, me sinto mais bonita”, diz ela.
Aumentar a autoestima é a principal vantagem desse tipo de atitude, segundo a psicogeriatra Claúdia Finamore. “Uma pessoa nesta idade se sente mais livre para realizar uma vontade de longa data e isso é muito positivo”, afirma. Ela apenas alerta para que a vontade de parecer mais jovem não se torne uma obsessão. “Realizar um desejo é diferente de negar a idade”, diz. Segundo os tatuadores, não existem restrições para uma pessoa de meia-idade fazer uma tatuagem. E os cuidados logo após o procedimento são os mesmos, como a higienização com sabonete neutro, escondê-la do sol e não mergulhar no mar ou na piscina por um mês.
Foi justamente a sensação de se sentir “mais moleque” que levou o jornalista aposentado Sérgio Pisani, 70 anos, a fazer não somente uma, mas três tatuagens depois dos 60 anos. Ele tem dragões nos braços, um tubarão em uma perna e um símbolo do signo de Peixes na outra, feitos no estúdio Tattoo You, em São Paulo. “Eu achava as tatuagens feias, mas agora elas são feitas de uma forma mais limpa e são mais bonitas”, acredita.
Segundo o tatuador Sérgio Leds, da Led’s Tattoo, de São Paulo, é comum os filhos que se tatuam influenciarem os pais. “A gente atende a família toda”, diz Leds. É o caso da empresária Pinah Ayoub, 58 anos, famosa sambista dos anos 1970 que, quando era destaque da escola de samba Beija-Flor, dançou com o príncipe Charles na avenida. Há duas semanas, ela, o marido e a filha tatuaram o mesmo desenho – as iniciais dos três em símbolos romanos no braço. “Confesso que relutei um pouco, mas adorei o resultado, me sinto renovada”, diz Pinah. Nunca é tarde para realizar um desejo.
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