terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

O Cisne Negro e a Psicanálise

CISNE NEGRO
Um filme de Darren Aronofsky

O ballet “O Lago dos Cisnes”, de Tchaikovsky, é a história de uma princesa que se transforma em um cisne branco e precisa do amor de um príncipe para voltar à vida humana. O príncipe promete salvá-la. Porém, ele se apaixona pelo Cisne Negro, que possui um grande poder de sedução e diz ser a princesa transformada em cisne. O príncipe percebe o engano, e não podendo voltar atrás, e se suicida. O Cisne Branco, diante da sua dor, falece.

No filme, Nina (Natalie Portman) é uma bailarina que recebe o papel principal dessa peça, tendo que representar tanto o Cisne Branco quanto o Cisne Negro. Aqui, o filme já apresenta a questão da cisão, quando a mesma personagem irá representar o Bem e o Mal de modo cindido.

A figura do pai não aparece no filme. E a mãe mostra-se controladora, vivendo em simbiose com a filha. A relação entre ambas torna-se sádica e masoquista, pois uma vivencia o sintoma da outra. A mãe sente-se frustrada por abandonar sua carreira como bailarina diante do nascimento de Nina e projeta nela seu desejo de realização profissional, além de culpá-la pela impossibilidade de sucesso. A filha, por sua vez, assume essa posição, buscando a perfeição e o sucesso como bailarina.

Nina é perfeita para representar o Cisne Branco. Meiga, doce, técnica, perfeita. Mora com a mãe, num quarto cheio de bichos de pelúcia, demonstrando que sua sexualidade é infantil e imatura. Para conseguir interpretar o Cisne Negro, ela precisa se conectar com seu desejo e sua agressividade. Através de um olhar psicanalítico, pode-se aludir que o Cisne Branco é o superego, a imagem colada ao discurso da mãe: menina meiga. O Cisne Negro é o Id, o desejo, a busca pela satisfação do prazer. O ego de Nina é frágil e não consegue mediar o Id e o Superego. O Id aparece, em princípio, nas coceiras e arranhões quando Nina se fere, e mais tarde, nas alucinações e delírios devido a forclusão da formação de compromisso psíquico.

Para possibilitar a representação do Cisne Negro, o diretor Thomas Leroy (Vincent Cassel) provoca o desejo de Nina e a seduz. É a presença masculina que vem se interpor na relação simbiotizada entre mãe e filha. Surge, também, a bailarina substituta Lily, que representa para Nina o Cisne Negro, pois não é tão técnica, nem tão perfeita, porém muito expressiva e sedutora. A partir desse momento, Nina começa a entrar em contato com suas emoções e seus desejos. O ódio pela mãe vem à tona, porém torna-se insuportável devido à culpa. Permite que sua sexualidade seja explorada, mas surgem os conflitos da imaturidade. Então, o Id que adormecia, torna-se desperto, gerando um conflito sem possibilidade de mediação para Nina, que possui um ego tão fragilizado.

Na noite de estréia do ballet, há o desfecho fatal diante de um ego tão frágil. Na busca da perfeição e de realizar o desejo da mãe, Nina precisa representar ambos os cisnes. E assim o faz, com perfeição. Porém, ao representar o Cisne Negro rompe o contrato com sua mãe de filha meiga. Após entrar em contato com representações insuportáveis para si, Nina não encontrou recursos psíquicos para sobreviver. Em seu delírio, mata Lily, o Cisne Negro. Entretanto, percebe que não consegue destruí-la, pois o conflito é interno. Desse modo, a ruptura torna-se real e ocorre no corpo. O Cisne Branco morre, de fato.

2 comentários:

Tais Nicoletti disse...

Claudia,muito legal. Lendo seu texto me lembrei do livro da Joyce McDougall ("As diversas faces de eros"), onde ela fala bastante do processo criativo. Tenho a impressão também de que o filme ilustra bem a relação do artista com sua obra, e dos impulsos agressivos que podem existir nele contra ela. Encarnar o cisne negro permitiu à bailarina dar vazão ao seu lado agressivo, fazendo da personagem uma artista mais completa.

nome disse...

Gostaria de saber se Nina chega a sair com deu diretor de bale Thomaz Leroy