O Curioso Caso de Benjamin Button é um filme adaptado do clássico homônimo de F. Scott Fitzgerald, de 1929, dirigido por David Fincher e estrelado por Brad Pitt, Cate Clanchett e Tilda Swinton. Conta a história de um homem que nasceu velho e com o tempo tornou-se jovem.
Um relojoeiro cego de New Orleans recebeu a encomenda de fazer um relógio para a estação de trem da cidade. Seu filho foi morto na I Grande Guerra e desejando que o tempo voltasse para trás, e trouxesse seu filho à vida novamente, o relógio foi desenvolvido para rodar ao contrário. Foi inaugurado no dia de término da guerra. E foi nessa noite que Benjamin nasceu.
Para que Benjamin nascesse, sua mãe faleceu no parto, e por isso ele sempre lhe foi grato, por dar-lhe a vida com a própria vida. Seu pai, revoltado com a tragédia, vê o filho como um monstro e tenta matá-lo afogado nas águas do rio que atravessa a cidade. Um policial se aproxima, e o pai de Benjamin corre, deixando-o na porta de uma casa.
Sua escolha não foi consciente, mas foi precisa. Benjamin foi deixado na porta de um asilo administrado por um casal negro, cuja esposa – Quennie – não podia engravidar. Foi acolhido de imediato por ela, que logo chamou o médico do asilo para examiná-lo. Era um bebê com aparência de velho. Cego pela catarata, quase surdo, com dores devido a artrite. O médico disse que iria morrer em breve. Mesmo assim, Quennie queria cuidar do bebê, indicando uma aceitação incondicional.
Além da inversão do caminhar do tempo – da velhice para a infância, havia também o descompasso entre a aparência e o desenvolvimento de suas capacidades. Era velho na aparência, mas seu desenvolvimento psico-motor era adequado à sua idade cronológica. Conforme o relógio andava para trás, o bebê crescia e ficava mais novo na sua aparência.
O filme aponta para relacionamentos baseados no preconceito e como isso é um fator limitante e dificultoso no trato social e familiar. Quennie, uma mulher negra que não podia ter filhos, devido um desejo intenso, supera qualquer estranheza que poderia causar-lhe um bebê com aparência de idoso, e o recebe como filho. Os demais idosos da casa relacionam-se com Benjamin como mais um idoso do asilo, sem perceberem que ele remoça ao invés de envelhecer, apontando para a superficialidade das relações e a impossibilidade de ver o outro além da sua aparência física. Laços tão enfraquecidos o direciona a solidão.
Também nessa direção é levado devido a diferença em relação ao outro. No seu caminho inverso, não se identifica com as pessoas a sua volta. E ainda, preocupa-se em não ser compreendido, afastando-se do convívio social mais prolongado.
A questão do tempo, entre a vida e a morte, adquire outro ponto de vista para Benjamin. Enquanto ele remoça, as pessoas a sua volta envelhecem. Ele convive com a experiência da morte de entes queridos desde cedo, pois fez várias amizades com os idosos do asilo. Do seu ponto de vista, todos estão próximos da morte, enquanto ele parece se distanciar. Porém, preocupa-se com seu fim, pois imagina que não haverá ninguém vivo para cuidar dele quando alcançar os primeiros meses de vida – ou os últimos.
Essa experiência as avessas torna-o uma pessoa muito pouco rancorosa, que sabe perdoar, permite-se voltar atrás nas suas decisões e é insistente na busca de seus objetivos. Um homem aventureiro, que busca muitas e diferentes experiências. O filme é um exercício de imaginação caso o rumo da vida fosse da velhice para a infância, e a idéia transmitida é que o ser humano seria mais complacente, saberia lidar melhor com as dificuldades da vida, embora – no fim – haja sempre a solidão.
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2 comentários:
Claudia, influenciada por seu post fui assistir ao filme. Fiquei admirada com a imaginação de quem concebeu uma idéia, genial na minha opinião. As possíbilidades de reflexão que foram lançadas da nossa impermanência e ao mesmo tempo como algumas vivências são eternas e atemporais, consciência de vida que o contato com a velhice traz e claro a solidão.
Valeu !
A maturidade tende a trazer maior compreensão e benevolência. Ao trabalhar com o sentido da vida de forma invertida, Fritzgerald (aliás muito bem adaptado ao cinema) provoca uma série de reflexões. Assim como esse seu texto. Primeira vez que entro neste blog e gostei. Voltarei mais vezes.
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